terça-feira, 22 de maio de 2018

Caso para reflexão: Fiat Strada convertida para gás natural com os cilindros montados por baixo da carroceria

Já faz algum tempo que a prática de instalar os cilindros de gás natural por baixo do assoalho ganhou espaço nas conversões para o uso desse combustível, sobretudo pela percebida vantagem em evitar a perda de capacidade volumétrica de carga como no caso dessa Fiat Strada usada para distribuição de gás liquefeito de petróleo (GLP - "gás de cozinha") engarrafado em Porto Alegre. De fato, ao montar os cilindros por baixo da carroceria, preserva-se o aproveitamento da área útil, mas convém lembrar que o equipamento acrescentado ao veículo acaba interferindo na distribuição de peso entre os eixos e diminuindo a lotação máxima de acordo com o peso bruto total no qual o veículo é homologado. No entanto, para algumas atividades em trajetos mais regionalizados onde o suprimento do gás natural já esteja devidamente consolidado (ou eventualmente complementado pelo biogás/biometano), pode até ser justificável recorrer ao mesmo como uma alternativa diante dos preços absurdos da gasolina e do descaso com o etanol, sem no entanto fazer disso uma bandeira contra a liberação do Diesel para uso em veículos leves no Brasil que ainda seria mais desejável em outros cenários operacionais.
A bem da verdade, em se tratando da popularidade que as pick-ups compactas de tração dianteira tem conquistado até mesmo para uso agropecuário e em atividades correlatas devido entre outros motivos à maior simplicidade comparada a modelos de porte mais avantajado dotados de tração 4X4, já seria mais um bom motivo para reavaliar as atuais restrições baseadas em capacidade de carga, passageiros ou tração. Afinal, nem sempre o que funciona bem em alguns bairros próximos ao centro de Porto Alegre pode satisfazer as necessidades de produtores rurais lá pela região de Santana do Livramento e Rosário do Sul, onde inclusive há uma usina de biodiesel que foi desativada e passou então a servir somente como terminal para carregamentos de soja. Pois bem, numa região onde a agricultura e a pecuária são de extrema relevância, e pick-ups compactas de tração dianteira são frequentemente usadas para transporte de insumos e também no provimento de assistência técnica a máquinas agrícolas nas propriedades rurais, cabe considerar não apenas o impacto que um sistema de combustível alternativo possa acarretar nas capacidades de incursão off-road do veículo mas também a possibilidade de usar recursos energéticos de procedência mais regionalizada visando uma redução nos custos para o manejo agropastoril e o escoamento da produção.

Por mais que eventualmente o biogás/biometano possa conquistar algum espaço também para fins automotivos (e até ser favorecido pelas deficiências do etanol na partida a frio e no alto consumo) e se firmar como uma alternativa para promover a capilarização da rede de gás natural canalizado pelo interior, seria estúpido crer que eventualmente algum produtor rural que tenha uma estrutura própria para abastecer o próprio trator e um veículo utilitário com óleo diesel convencional fornecido por algum transportador-revendedor retalhista não fosse preferir uma transição mais fácil para o biodiesel ou até mesmo para o uso direto de óleos vegetais naturais com um custo de produção menor. Logo, a ilusão em torno de uma hipótese de que seria possível compensar as restrições ao Diesel em veículos leves por meio do gás natural já cai por terra Enfim, por mais que a instalação de cilindros de gás natural veicular por baixo do assoalho possa atender de forma satisfatória a uma parte considerável do público em áreas com uma oferta já consolidada desse combustível, não convém ignorar que essa nem sempre é a realidade daqueles que viriam a ser mais beneficiados por uma liberação do Diesel.

Um comentário:

  1. Realmente o gás não é ruim para usar na cidade ou até na estrada, mas isso desde que os postos de combustível estejam servidos por gasoduto. Em algumas cidades do interior de Santa Catarina se eu não me engano até o gás natural ainda chega de caminhão para os postos. Mas se fosse pensar numa picapinha dessas para usar na roça eu ainda acho que além do motor a diesel seria bom se pudesse ter o volante na direita como as que eram exportadas para a África do Sul, para ficar mais fácil controlar quando estivesse passando pelas bordas de uma estradinha de terra morro acima.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html