terça-feira, 8 de maio de 2018

Carro elétrico: longe de ser uma solução completa

A alguns dias atrás, o meu pai levantou a hipótese de os carros elétricos serem úteis até mesmo para diminuir a concentração de poder político nas mãos das ditaduras sustentadas pelos "petrodólares". De fato, somada à ilusão de uma energia "limpa" e bem distribuída pode soar atraente, mas está longe de ser a melhor alternativa para uma efetiva substituição do motor de combustão interna em todos os cenários operacionais. Seja por fatores como a demora para recarga completa das baterias ou pela falta de investimentos em geração e distribuição de energia elétrica no Brasil trazendo à tona as memórias do "apagão" de 2001, além de falhas na distribuição em decorrência de fenômenos meteorológicos como uma chuva um pouco mais forte como de vez em quando acontece em Porto Alegre ou a queda de um raio numa subestação da Furnas no interior de São Paulo que deixou quase todo o Brasil às escuras em 2009, já se revelam algumas deficiências da mobilidade elétrica.

É até possível alegar que uma expansão da rede de pontos de recarga para veículos elétricos puros e híbridos plug-in possa ter uma dependência menos significativa pela atual rede elétrica nacional que é bastante precária, e oferecer opções para viabilizar a expansão de fontes alternativas como a energia fotovoltaica (solar), com eventuais excedentes de produção sendo vendidos à distribuidora de energia elétrica na região a exemplo do que já é feito com o processo de co-geração implementado em usinas de açúcar e etanol mediante a queima do bagaço da cana. No entanto, ainda há de se levar em conta outros aspectos como a altura das construções numa região e a proporção da superfície dos painéis fotovoltaicos instalados pela área construída, bem como o consumo de energia em outras aplicações estacionárias tanto para fins residenciais quanto comerciais/industriais e de serviços. Claro que ainda há outras opções como a geração eólica, que também podem ser integradas para assegurar uma maior estabilidade no fornecimento de energia, mas não convém tomá-las como um pretexto para segregar o motor de combustão interna.

Por mais que o Brasil tenha condições bastante propícias ao desenvolvimento de energias "limpas", a exemplo não só da fotovoltaica mas também da predominância das hidrelétricas, cabe destacar que a demanda por eletricidade ainda é suprida em parte por grupos geradores movidos a óleo combustível (no caso dos geradores "portáteis" normalmente é usado o óleo diesel convencional) e pelas usinas termelétricas movidas a carvão mineral ou gás natural tanto em função de eventuais períodos de baixa excessiva nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas quanto pela conhecida falta de confiabilidade da rede elétrica. Naturalmente, a disponibilidade tanto de recursos hídricos quanto de áreas com alta insolação e outras regiões com vento em abundância poderiam levar a crer que o Brasil estaria numa posição privilegiada no tocante à geração de energia, mas infelizmente a realidade está distante dessa expectativa. Até mesmo o presidente da Toyota para a América Latina e Caribe, Steve St. Angelo, mencionou frequentes quedas de energia quando chove forte no bairro onde ele reside em São Paulo como um motivo para a empresa ter uma posição cautelosa até mesmo com relação aos híbridos plug-in e trazer para o Brasil o Prius só numa versão que não conta com provisão para recarga das baterias por fonte externa, e nesse caso a recente aposta da Toyota no etanol como uma possibilidade para os híbridos parece fazer ainda mais sentido do que nunca...

Há de se levar em consideração também que não é toda a frota brasileira que vá ficar estacionada em locais com uma provisão de eletricidade que possa servir para recarregar baterias (que no caso dessa ambulância Peugeot Boxer da foto acima seriam baterias de equipamentos médicos, para não precisar manter o motor ligado em marcha-lenta e recorrer ao alternador visando a recarga das mesmas), logo se faria necessária uma alteração substancial na infra-estrutura para que fossem oferecidos pontos de recarga abertos ao público. Portanto, aquela ilusão de não depender de postos de combustível também se torna carta fora do baralho, cabendo ponderar ainda a menor densidade energética das baterias mais comuns em veículos elétricos e híbridos resultando numa menor autonomia, além da maior rapidez para o reabastecimento com um combustível líquido (ou mesmo com gás natural) assegurar um retorno mais rápido do veículo a uma condição de plena operacionalidade. Assim, o carro elétrico fica menos convidativo para um público mais generalista que prefira não se limitar tanto à infra-estrutura e poder usar o veículo em diferentes regiões.

A aposta de fabricantes tradicionais como a Porsche nos híbridos plug-in leva a crer que a integração é a única opção para fazer com que a tração elétrica ganhe mercado sem causar um certo temor numa parcela ainda expressiva do público, mesmo em segmentos de luxo onde o alto valor agregado é visto como uma facilidade para promover novas tecnologias. Há de se levar em consideração também uma eventual resistência à idéia de se eliminar completamente a experiência sensorial associada ao motor de combustão interna, que ainda soa extremamente desagradável para entusiastas mesmo diante dos recentes avanços no desenvolvimento de motores elétricos, principalmente em modelos de proposta esportiva como é o caso do Porsche Panamera 4 e-hybrid. Por mais que hoje a Tesla esteja desafiando fabricantes de automóveis de alto luxo com uma história mais rica, tanto em desempenho quanto em gadgets para agradar a turma do Vale do Silício, ainda existe espaço para veículos com algum nível de ruído para evocar sensações de esportividade, enquanto um silêncio de capela mortuária ainda seja apreciado por exemplo num Rolls-Royce Ghost (nome bastante sugestivo, apesar de não abrir mão do motor V12 twin-turbo a gasolina e não ter nenhuma versão híbrida ou elétrica pura).

Partindo para a questão de como reduzir o poder político dos sheiks do petróleo e de outros membros do cartel da OPEP, é impossível não salientar a experiência brasileira com o etanol e a popularização dos veículos "flex" que atingiu até o segmento motociclístico, bem como o gás natural que se firmou como um concorrente até mesmo para o óleo diesel convencional em algumas aplicações. Apesar do ceticismo que está prevalecendo em torno do etanol como reflexo de politicagens desastrosas, e de limitações práticas que os sistemas de gás natural veicular acarretam aos veículos convertidos para usar esse combustível, convém destacar a importância que possam ter num contexto de estabilização biológica ao promover uma destinação mais sustentável para resíduos orgânicos com algum potencial energético hoje pouco explorado. Enquanto com o etanol vem ocorrendo uma maior participação do milho entre as matérias-primas não apenas no exterior mas também na região Centro-Oeste articulado com o uso do "grão de destilaria" na alimentação de gado, também é interessante destacar eventuais oportunidades para integrar o biogás/biometano em projetos de saneamento básico e assim atender tanto à necessidade de superar a deficiência brasileira nessa área quanto fortalecer a independência energética. Afinal, por mais que alguns defensores da mobilidade elétrica exagerem no fanatismo ao tentar demonizar o motor a combustão interna, este ainda se revela útil para um aproveitamento de rejeitos que poderiam acarretar numa contaminação ambiental mais severa caso fossem descartados na natureza sem tratamento prévio, como é o caso do gás metano que tem uma meia-vida mais longa que o dióxido de carbono (CO² - "gás carbônico") resultante da combustão. Isso para não entrar no mérito do biodiesel e de um eventual uso direto de óleos vegetais como combustíveis veiculares e para maquinário agrícola...

Diferentes condições operacionais nem sempre podem contar de forma satisfatória com uma única matriz energética, e portanto uma integração entre diferentes opções deve prevalecer. Nada impede a tração elétrica de conquistar seu espaço em algumas aplicações, sem fazer muita distinção entre os pretextos de uma declarada "sustentabilidade" ou no anseio de fomentar uma maior independência energética para o Brasil e outros países cuja população preserve os valores judaico-cristãos que tem sido sistematicamente atacados por correntes ideológicas financiadas em uma parte considerável pelos "petrodólares" e que adotam posturas hostis às liberdades individuais e aos verdadeiros direitos humanos. Logo, por mais que veículos elétricos venham a ter alguma aplicabilidade prática, estão longe de ser uma solução completa para vencer os desafios da mobilidade.

Um comentário:

  1. Se até para esquentar água no chuveiro tem quem prefira usar gás, faz algum sentido desconfiar dessa exaltação toda que fazem a favor do carro elétrico.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html