sábado, 23 de dezembro de 2017

Uma observação sobre o caso (verídico) do ex-cirurgião plástico que fazia biodiesel com gordura humana

Entre amigos, quando algum é mais gordinho, às vezes podem sair menções anedotais em torno do que seria possível fazer com a quantidade de gordura depois de uma lipoaspiração. Há quem diga que as piadinhas e brincadeiras tenham algum fundo de verdade, mas mesmo assim algumas parecem mais próximas de um conto de ficção com contornos macabros. Assim, é previsível que propor o uso de gordura corporal humana soe um tanto perturbador quando ultrapassa as barreiras do humor privado...

Não é nenhuma novidade que o manejo de resíduos hospitalares envolve um elevado risco associado à contaminação por agentes patogênicos, além do uso de material biológico humano para aplicações industriais envolver uma série de aspectos éticos e religiosos, além de eventuais implicações jurídicas. Um caso que ganhou relativa notoriedade no ano de 2008 foi o do ex-cirurgião plástico americano Craig Alan Bittner, que mantinha uma clínica de lipoescultura em Beverly Hills e usava a gordura extraída de pacientes como matéria-prima para biodiesel, prática ilegal na Califórnia. De fato, é importante considerar questões mais subjetivas como o consentimento informado que é um direito do paciente, e também outras de ordem técnica como a eventual retirada de uma quantidade excessiva de gordura corporal, causando desfigurações.

O médico, que também era membro da ONG ecofascista Sierra Club, alegava usar o combustível que batizou "Lipo Diesel" em um sport-utility, e alegava que alguns pacientes optavam por submeter-se à lipoescultura com ele justamente pela proposta de fazer parte de uma "revolução" ecológica tendo em vista a destinação pouco convencional dada à gordura que tinham removida. No entanto, além de ter atraído a atenção do departamento de saúde pública da Califórnia, chegou a ser acusado de extrair uma quantidade excessiva de gordura e delegar à namorada a execução de lipoesculturas mesmo sem ser médica, e ainda foi processado por alguns pacientes que alegavam ter ficado deformados. A clínica foi fechada ainda no final de 2008, com Bittner alegando que iria desenvolver outro trabalho numa missão humanitária na América do Sul. De acordo com o jornal Beverly Hills Courier, teria passado pelo Brasil enquanto estava a caminho da Colômbia.

O uso de material biológico humano em aplicações não-medicinais já é por si só algo polêmico, tanto por aspectos de bioética quanto eventuais interpretações religiosas. Ainda que o caso do ex-cirurgião plástico não envolvesse a comercialização da gordura extraída dos pacientes, é previsível que se faça uma analogia à questão ética envolvendo as "células HeLa" que ainda são muito usadas em pesquisas na área médica e fomentaram as primeiras discussões em torno de aspectos como o consentimento informado e uma eventual remuneração de pacientes ou herdeiros por um uso do material biológico que possa acarretar em lucros e prestígio junto à comunidade científica. No entanto, considerando que a gordura corporal removida em lipoaspirações e lipoesculturas vá ser tratada como apenas mais um lixo hospitalar, algo até bastante problemático sob o ponto de vista ambiental, a destinação como matéria-prima para a elaboração de biodiesel pode não soar tão absurda, ainda que esteja longe de ser a mais economicamente viável.

É natural que ainda persista alguma rejeição pelo uso de partes do corpo humano para fins industriais, mesmo quando não são extraídas de um defunto e portanto não configurem o crime de vilipêndio a cadáver. Há de se levar em consideração também as implicações ecológicas da destinação de resíduos hospitalares, cuja forma mais frequente de descarte ainda é a incineração, apesar de nos últimos anos vir ganhando espaço a esterilização em autoclave com a intenção de neutralizar materiais infectantes e permitir o descarte seguro em aterros sanitários comuns. Enfim, por mais que um uso de gordura humana para fazer biodiesel possa chocar alguns, e mesmo a grande quantidade de procedimentos de lipoaspiração estando longe de garantir um suprimento constante desse material, até não é uma idéia tão absurda quanto possa parecer...

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

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http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html