sábado, 7 de outubro de 2017

Tração 4X4: um parâmetro ineficaz para prevenir que o Diesel se tornasse um artigo de "luxo"

Já não é novidade que os utilitários-esportivos, mais conhecidos hoje pela sigla SUV (sport-utility vehicle), vem tomando o lugar das station-wagons tradicionais e até das minivans, firmando-se não só como uma opção mais direcionada ao uso familiar mas também em segmentos de luxo, a ponto de até fabricantes tradicionais como a Mercedes-Benz terem marcado presença nos últimos 20 anos com modelos como a Classe M. Se na 1ª geração ainda preservava algumas características mais comuns em SUVs tradicionais, com destaque para a caixa de transferência de dupla velocidade (a popular "reduzida"), nas duas gerações subsequentes esse recurso passou a ser opcional em outros mercados, enquanto no Brasil a relação mais curta da 1ª marcha no câmbio automático já servia como pretexto para que o modelo ainda pudesse ser homologado como "utilitário" mesmo com uma caixa de transferência de velocidade simples. Ainda que essa mudança possa à primeira vista já parecer vantajosa sob o ponto de vista da eficiência energética, não deixa de ser conveniente observar outros aspectos inerentes às condições de uso desses veículos e o quanto se torna contraproducente empurrar consumidores dispostos a pagar pelo privilégio de usar óleo diesel num veículo particular para modelos superdimensionados que no fim das contas vão comprometer mais a disponibilidade do combustível para fins comerciais.


O perfil essencialmente urbano predominante entre usuários dos SUVs de luxo, destacado também pelo uso de pneus mais adequados ao uso em pistas pavimentadas que em terrenos rústicos, já levaria a crer que a tração 4X4 por si só não seria de fato uma necessidade para a grande maioria do público dessa categoria de veículos. A presença cada vez mais maciça dos controles eletrônicos de tração já é suficiente para auxiliar em muitas condições de baixa aderência que possam ser encontradas não somente na cidade (caso de algumas ladeiras em dias chuvosos) mas também nas eventuais escapadas para uma chacrinha no interior ou outras áreas de lazer campestre ou litorâneo, apesar do apelo de marketing que também acaba sendo inerente à tração 4X4. É comum ver nesse recurso uma sensação de segurança que possa ser tomada equivocadamente como algo próximo de uma invulnerabilidade a certas condições que possam acarretar em perda da estabilidade direcional num carro de footprint (largura x comprimento) próximo que seja dotado de tração simples, sem levar em consideração as implicações inerentes a um centro de gravidade mais alto numa comparação entre um SUV e uma station-wagon. E mesmo numa comparação entre modelos de diferentes categorias mas que sejam igualmente dotados de tração nas 4 rodas, tomando como exemplo o Audi Q7 representando os SUVs e a station-wagon de pretensões aventureiras Audi A6 allroad quattro, fica evidente o quanto esse recurso acaba não só superestimado por usuários com um perfil mais urbano, como também pode não ser suficiente para tornar um SUV mais "incapotável" que uma wagon...

Motivos tão diversos quanto a maior permissividade nas normas de emissões e metas de redução de consumo de combustível para os "caminhões leves" nos Estados Unidos, ou a ilusão de uma eventual vantagem em algumas condições de rodagem adversas que já podem ser vencidas com recursos mais simples, passando pela estupidez burocrática brasileira ao condicionar o uso de motores Diesel à capacidade de carga, passageiros ou tração, a canibalização entre as station-wagons tradicionais como a Chrysler 300C Touring e SUVs como o Mercedes-Benz GLE 350d é uma medida desastrosa. Além de restringir a liberdade para o consumidor escolher o veículo com uma proposta mais de acordo com os anseios do freguês, também há de se levar em conta que um carro mais normal tende a favorecer mais a eficiência energética em comparação a uma caminhonete, mesmo quando eventualmente usem o mesmo motor como é o caso de algumas versões da 300C Touring oferecidas fora do Brasil e o GLE 350d com o motor Mercedes-Benz OM642 de 3.0L e 6 cilindros em V. Enfim, como se já não bastasse ter sido convertida num incentivo à procura por modelos com um consumo mais elevado que acarreta num maior impacto sobre a disponibilidade do óleo diesel para aplicações utilitárias em geral, a simples presença da tração 4X4 passou longe de ser eficaz para prevenir que o Diesel fosse alçado à condição de "luxo".

Um comentário:

  1. Infelizmente vivemos em um país onde a "burrocracia" estatal impera. Nada é feito para beneficiar a população em geral, cargos-chave, que exigem conhecimento técnico, Engenharia Mecânica, por exemplo aqui nesse caso, são preenchidos por apadrinhados políticos sem o menor preparo, daí surgem essas decisões equivocadas, baseadas em achismos por falta de conhecimento dos avanços tecnológicos. Se os motores Diesel poluem é muito mais por culpa de um combustível de péssima qualidade (e já foi infinitamente pior, nos anos 1990 eram 15mil ppm de enxofre...) do que pela ignição por compressão, há também que se ressaltar que o.uso da eletrônica acabou com a maior vantagem.do Diesel sobre o ciclo Otto, (que era uso de eletricidade somente para acionar o motor de arranque), com isso encareceu manutenção fragilizou a robustez em operações extremas.

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Nem sempre é viável manter as relações de marcha originais após converter um veículo para Diesel, em função dos regimes de rotação diferenciados. Portanto, uma alteração das relações de diferencial ou até a substituição do câmbio podem ser essenciais para manter um desempenho adequado a todas as condições de uso e a economia de combustível.

It's not always viable to retain the stock gear ratios after converting a vehicle to Diesel power, due to different revving patterns. Therefore, some differential ratio or even an entire transmission swap might eventually be essential to enjoy a suitable performance in all driving conditions and the fuel savings.

Mais informação sobre relações de marcha / more info about gear ratios
http://dzulnutz.blogspot.com/2016/03/relacao-de-marcha-refletindo-sobre.html